O Hospital Municipal de Natal, anunciado como marco na ampliação da rede de saúde da capital potiguar, pode se tornar mais uma obra de impacto simbólico do que de utilidade prática. A avaliação é do presidente do Sindicato dos Médicos do Rio Grande do Norte, Geraldo Ferreira, que, em entrevista à Mix FM, afirmou que a Prefeitura não dispõe de condições financeiras para arcar com o funcionamento da unidade.
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De acordo com Ferreira, apenas para iniciar as atividades seriam necessários cerca de 1.500 contratados, além da aquisição de equipamentos em larga escala. “É um hospital gigante, mas não há como sustentar esse custo. A própria Câmara Municipal já reconheceu que o município não tem orçamento para colocá-lo em funcionamento”, disse.
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O sindicalista alertou que a abertura do Hospital Municipal pode repetir um ciclo já visto em outras gestões, o fechamento de uma estrutura existente para justificar a inauguração de outra. “Quando o Hospital Municipal for aberto, vão fechar outro. Isso já ocorreu em outras ocasiões. O discurso é de ampliação, mas, na prática, ocorre apenas a troca de prédios”, criticou. Ele também lembrou que o Governo do Estado planeja erguer um hospital metropolitano, mas teme que o mesmo problema se repita.
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O alerta não é isolado. A crise financeira da saúde estadual evidencia a dificuldade de manter estruturas básicas. Só nos seis primeiros meses de 2025, o déficit acumulado chegou a quase R$ 300 milhões, segundo cálculo do sindicato. O repasse necessário para sustentar a rede gira em torno de R$ 80 milhões mensais, mas o governo tem desembolsado apenas metade desse valor, provocando desabastecimento, dívidas com fornecedores e até a suspensão temporária de insumos, como órteses e próteses.
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Ferreira relacionou esse quadro ao futuro do Hospital Municipal. Para ele, mesmo que a unidade fosse equipada e inaugurada, a tendência seria de paralisações frequentes. “Se o município não tem como pagar os profissionais e manter os serviços básicos, não adianta erguer um prédio desse porte. A consequência será a mesma que já vemos, fechamento de alas, suspensão de atendimentos e falta de insumos”, afirmou.
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Outra preocupação levantada pelo presidente do sindicato é a possibilidade de terceirização da gestão do hospital por meio de organizações sociais e cooperativas. Segundo ele, o modelo já foi classificado como irregular pela Justiça do Trabalho e será analisado pelo Supremo Tribunal Federal em setembro. “Essas empresas contratam profissionais com escala fixa e salário mensal, mas se apresentam como se não houvesse vínculo trabalhista. Isso abre brechas para corrupção e já foi apontado como falho por tribunais de contas e pelo Ministério Público do Trabalho”, observou.
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Ferreira concluiu defendendo que a participação da iniciativa privada na saúde não seja descartada, mas que ocorra dentro da legalidade. Para ele, a solução passa por garantir financiamento estável e permanente para a rede pública. “Não somos contra empresas, queremos apenas que trabalhem de forma legal. O custeio da saúde não pode ficar sujeito a promessas de emendas ou a contratos precários”, finalizou.