O que era tese de doutorado virou livro, o livro virou debate e, de uma hora pra outra, virou fenômeno. Assim nasceu Só sei que foi assim…, do jornalista e escritor potiguar Octavio Santiago, que já percorre feiras literárias por todo o país, ocupa listas de mais vendidos e prepara a mala para mais um destino simbólico, a Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, que acontece entre os dias 3 a 12 de outubro.
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Lançado recentemente pela editora Autêntica, o livro discute com profundidade, mas sem academicismos, o preconceito histórico e estrutural contra o Nordeste dentro do imaginário nacional. O autor não economiza palavras para traduzir o incômodo coletivo de um povo que, por décadas, foi empurrado para o “lugar menor” nas narrativas oficiais do Brasil.
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“Existe um incômodo real em relação a esse ‘lugar menor’ no qual o nordestino foi colocado no imaginário nacional, e o livro surge como uma ferramenta para entender as razões disso e forçar um enfrentamento. Acho que ele toca num ponto sensível e necessário”, afirmou Octavio, em entrevista a jornalista Thaisa Galvão.

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De tese à virada literária
A origem da obra está em uma tese de doutorado defendida por Santiago em uma universidade de Portugal. Transformado em livro, o trabalho ganhou vida própria e hoje alimenta um debate urgente sobre identidade regional, apagamentos históricos e resistência cultural. O autor tem participado de mesas principais em eventos como a Feira do Livro de São Paulo e a Flip, além de conceder entrevistas a veículos como BBC, Veja e Folha de S.Paulo.
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“Eu esperava que o livro fosse causar algum barulho, sim, mas assim, tão rápido, foi uma surpresa. Tivemos que rodar uma nova tiragem em menos de 30 dias, e isso é muito especial. Mostra que há uma pressa, quase uma urgência, nessa revisão do Brasil”, disse.
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Livrarias em Brasília registraram esgotamento de exemplares, e a editora já providencia reposições em diversas capitais. O livro chegou ao primeiro lugar na Amazon e virou tema de postagens e indicações de nomes influentes, como a ex-BBB Juliette Freire, que ajudou a impulsionar a visibilidade da obra nas redes sociais. Entre os leitores notórios está também a presidente do FNDE, Fernanda Pacobahyba, que destacou publicamente o livro como leitura essencial.
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“Tudo o que um autor quer é ser lido”
A rotina de Octavio Santiago se divide agora entre entrevistas, eventos e viagens, pelo menos 12 ações confirmadas até outubro. “Poxa, eu diria que ele já chegou à mão de muitos leitores especiais, gente que admiro inclusive, e isso, por si só, já é grande. Tudo o que um autor quer é ser lido, e, nesse caso, a difusão desse conhecimento me interessa duas vezes”, declarou.
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Questionado sobre o futuro, Octavio mantém os pés no chão e os olhos nos leitores: “Na mão de mais e mais leitores. Esse é o lugar mais importante no final de tudo”. E sobre um possível assento na Academia Brasileira de Letras? “Ainda preciso produzir muito e por muitos anos para considerar e ser considerado. Acho que é um lugar que se constrói com o tempo, com consistência e com muitas entregas.”
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Só sei que foi assim… é mais que um título — é também uma resposta provocativa à indiferença e ao preconceito. Um chamado à memória e à reescrita de um país que ainda deve ao Nordeste mais do que celebra.
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