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Guaraci Gabriel, o gigante das artes monumentais, será homenageado na XXI edição do Troféu Cultura

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O XXI Troféu Cultura promete uma noite de brilho e reconhecimento à cultura potiguar. O evento, que acontece nesta quinta-feira (19), a partir das 18h, no Teatro Riachuelo, irá premiar artistas de 10 categorias que se destacaram ao longo de 2024. Nesta edição, três grandes personalidades serão homenageadas pelas suas ricas histórias e contribuições para a cultura do Rio Grande do Norte: Dona Militana, Antônio Francisco e o consagrado artista visual Guaraci Gabriel.

Considerado um dos maiores artistas visuais do Rio Grande do Norte, Guaraci Gabriel é o verdadeiro “gigante das artes monumentais”. Sua carreira, marcada por obras colossais e pelo uso de sucata como matéria-prima, levou seu nome ao Guinness World Records, em 2000, quando conquistou o título pela maior escultura de sucata do mundo com a impressionante obra “Guerra e Paz”, instalada na Via Costeira de Natal. A escultura, com 24 metros de altura e 50 toneladas, além de chamar a atenção pelo porte, simboliza o compromisso do artista com o meio ambiente e a transformação de resíduos em arte.

Se por fora Guaraci Gabriel é visto como uma figura séria e tímida, por dentro ele revela-se brincalhão, generoso e sempre rodeado de amigos. Ele se define como um artista “hiperativo”, que encontra na arte uma maneira de canalizar sua energia. Sua arte, segundo ele, é o reflexo de sua alma: “Objetos considerados sucata eu trato de converter em arte. A minha arte revela criatividade, atitude e responsabilidade sociocultural, política e ambiental.”

Seu espírito inquieto e criativo o motiva a sonhar mais alto — literalmente. Guaraci já declarou que deseja superar a própria marca no Guinness World Records, criando uma obra de mais de 30 metros de altura. O desafio é audacioso, mas não é algo impossível para um homem que vê o mundo como matéria-prima de sua arte.

Foto: Alex Régis

Das margens do Potengi para o mundo

Natural de São Pedro do Potengi, Guaraci cresceu cercado pela natureza e pela cultura popular. Sua infância foi vivida nas proximidades da Lagoa do Feijão, onde aprendeu a modelar peças de argila ao lado de sua mãe, Dona Iraci. Ainda jovem, mudou-se com a família para o distrito de Massaranduba, em Ceará-Mirim, e, mais tarde, para o bairro de Igapó, em Natal, onde a busca por melhores condições de vida e estudo trouxe novas perspectivas para o artista em formação.

Desde cedo, Guaraci se destacou por seu olhar atento aos detalhes. Um exemplo curioso vem de sua experiência ajudando a família na bodega, onde vendia barras de sabão embrulhadas em papel de revista. Enquanto seus irmãos faziam o trabalho mais rápido, as barras preparadas por Guaraci eram as primeiras a serem vendidas — o cuidado estético já se manifestava de forma natural.

A carreira artística começou a tomar forma quando Guaraci ingressou na Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte (ETFRN), atual IFRN, no curso de Edificações. Lá, teve aulas com o grande professor Thomé Filgueira, que o influenciou no uso de técnicas de artes plásticas e o apresentou a um universo de possibilidades artísticas. Foi nesse período que Guaraci começou a explorar a pintura, o estêncil e a criação de esculturas.

Da argila à sucata: o surgimento do artista monumental

Se na infância a argila foi sua primeira matéria-prima, na fase adulta Guaraci descobriu o potencial da sucata. A partir de objetos descartados, ele passou a criar obras monumentais, muitas delas homenageando grandes personalidades brasileiras, como Elino Julião, Auta de Souza, Paulo Freire, Zila Mamede e Pelé. No entanto, seu projeto mais emblemático continua sendo “Guerra e Paz”, a maior escultura de sucata do mundo.

Outro ponto alto de sua carreira foi a transformação do estêncil em técnica de construção de esculturas, algo que o diferenciou de outros artistas visuais. Essa técnica permitiu que ele desenvolvesse peças que dialogam com questões sociais, ambientais e culturais, fortalecendo sua reputação no Brasil e no exterior.

Guaraci Gabriel não está sozinho nessa jornada. Ele conta com o apoio de seus filhos, Wendel (36 anos) e Felipe (27 anos), que participam da produção de suas obras. O artista também é avô de três netos e mantém um relacionamento amoroso com Walison Silva, com quem compartilha a vida no bairro de Pajuçara, Zona Norte de Natal. No local, suas obras gigantes fazem parte do cotidiano dos moradores, como a escultura “Soco no Ar”, em homenagem a Pelé, instalada em frente a uma praça no bairro.

A arte de Guaraci Gabriel transcendeu as fronteiras do Brasil. O artista participou de eventos internacionais de prestígio, como:

  • Brazilianisches Kulturfestival – Gmund, Áustria (2017 e 2019)
  • Bienal de Havana – Cuba (2003, 2006 e 2009)
  • Bienal de Arte Contemporânea de Ushuaia – Patagônia, Argentina (2004)
  • Bienal do Mercosul – Porto Alegre/RS (2001)
  • Arte da Esquina do Brasil – Viena, Áustria (2000)

Além de exposições internacionais, Guaraci participou da Bienal de Arte Contemporânea de Havana, em Cuba, e da Bienal do Mercosul, em Porto Alegre. Ele também conduziu a tocha olímpica na cidade de Mossoró durante as Olimpíadas de 2016, simbolizando o reconhecimento do seu valor artístico e social.

Com 43 anos de carreira, Guaraci se estabeleceu como um dos maiores artistas visuais do Nordeste. Suas obras exaltam a cultura potiguar e também fazem reflexões profundas sobre temas como devastação ambiental, diversidade cultural e preservação da memória. No decorrer de sua trajetória, foi reconhecido como Cidadão Natalense e Cidadão Cearamirinense, títulos concedidos pelas câmaras municipais em reconhecimento ao impacto de suas obras na cultura potiguar.

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